17.2.05

“Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,
E vai-se, sempre muito leve.
Eu não sei o que penso
Nem procuro sabê-lo.”
(Alberto Caieiro )


Chega de fazer e desfazer malas. Chega de estrada. Chega de suspenses e sobressaltos. Estou cansada, esgotada. Estou querendo ficar quieta, calada, sozinha. Estou com sono, me sinto triste. Sinto fome. Duas semanas, muito aconteceu, dentro e fora do meu coração. Mas depois de dias como que anestesiada, finalmente sinto que sinto alguma coisa. Uma brisa leve muito leve passa. Não sei o que sinto, nem tento sabê-lo.

Meu irmão está cada vez mais velho e circunspecto. Minha mãe sempre o defendeu, e meu pai a mim. Agora que estamos envelhecendo, ele defende minha mãe, e eu o meu pai. O que teria acontecido se não fôssemos quatro? Leve, leve, muito leve...

O mundo é machista. Dirijo há mais tempo, tenho mais experiência ao volante. Mas meu irmão vai dirigindo. É machista. Estou menos cansada e sou menor. Mas meu irmão é quem dorme no sofá. Família sempre me faz querer pensar em tanta coisa... mas "o mundo não se fez para pensarmos nele, mas para olharmos para ele e estarmos de acordo". E uma brisa leve muito leve passa...

Eu não sei o que quero, nem tento saber. Eu não sei o que é, nem tento saber. Não sei o que foi, nem tento saber. Não sei o porque, nem tento saber. A nossa biologia, a nossa mortalidade, o nosso corpo... o que é quando ele nos abandona? A minha tia morreu afogada no próprio sangue, que o coração dela não conseguia mais bombear para fora do pulmão. E vai-se, sempre muito leve...

“Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma”
(Alberto Caieiro)

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