27.11.05

Acasomancia

Assisto com um susto e um salto
à explosão para o alto
de tudo o que eu pensava saber.
Perplexa, vejo à minha volta chover
idéias e medos.
Sonhos, projetos e apegos
caem desordenados pelo chão.
Minhas certezas, não sei onde estão.
Em desalento procuro ao redor:
aqui, memórias; ali, um carinho maior...
São partes de mim espalhadas,
milhares de mim, variadas,
um espelho em cacos,
trechos, pedaços, nacos,
versos aleatoriamente jogados.
Tudo aquilo que antes fôra
meticulosamente arrumado
jazia agora no piso.
E eu, entre o choro e o riso,
notei que talvez houvesse, afinal
um tanto de ordem no caos,
algum sistema escondido,
uma forma qualquer de sentido,
à espera de ser descoberto.
Foi assim, de tanto mirar o errado,
que acabei enxergando o que é certo.

(Pra pensar:

Bom ou Mau?
Quando se está só
em meio à escuridão
qualquer vagalume é uma luz.)

24.11.05

4º. Sanca Blues Festival

Dia 03/12 - Noite do Blues

21h - Nuno Mindelis
abertura: Sun Walk & Dog Brothers

Ingressos à venda no Sesc São Carlos

Espia aí do lado as bandas de blues que eu recomendo e imagina só o que eu achei desta combinação!!!!!

21.11.05

Dois Poemas de Adeus

Você, que me ensinou a ser poeta,
me ensine agora a ser sozinha,
pois eu não quero mais viver nesta orfandade
que é ser sem você.
Você, que é pai de toda a poesia que há em mim,
me ensine agora a perambular sem destino
por estas ruas de nomes sem sentido
deste lugar onde você não está.
A cada vez que você se vai
morre em mim algo de mágico,
e a tua existência é só partida,
nossa vida é só de adeus...

* * *

Sem teu manto
sou tão
sem sentido...
Sinto muito;
muito
sentimento.
Sem ti, minto:
eu consinto
em ser sem ti;
consentimento
com sentimento
mas sem sentido.
Sem ti
sou somente só.
Sou só semente,
sem muito.
Só, somente.

19.11.05

Em Cartaz

Não demores muito mais, amor, dentro de mim.
Quando eu voltar quero a sala vazia
As portas fechadas do meu camarim,
E nenhuma lembrança que fale de ti.
Esta noite, anuncies, não haverá espetáculo.
Desço as cortinas, esvazio o palco.
Com um pouco de pó, disfarço minha mágoa,
E faço uma máscara para minha dor.
Tranco a magia no silêncio de um verso,
E em seus bastidores me faço um imenso deserto.
Sobre o tablado da casa tão conhecida,
Sou estrangeira inundada de incertezas,
E roubada de fantasias.
Derramo-me em uma fogueira estéril
Que descolore a chama retinta.
Expando-me de dentro de um abraço solitário
Que brevemente contém as memórias gritantes
As quais me convertem em momento, narração brusca.
Rompo e a esse lugar não pertenço mais!
No desfecho do ato, apanho meu caos
Estancando minhas tempestades.
Desboto a pintura que recobre meu corpo,
E trajo a minha própria nudez.

(Roberta Akemi Saito)

14.11.05

Soneto da Perdida Esperança

Perdi o bonde e a esperança.
Volto pálido para casa.
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre o meu corpo.

Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princípio do drama e da flora.

Não sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
porque não? na noite escassa

com um insolúvel flautim.
Entretanto há muito tempo
nós gritamos: sim! ao eterno.

(Carlos Drummond de Andrade)

O que eu mais gosto em poesia é que por mais dramático e paranóico que você seja, sempre consegue a companhia de algum grande poeta. Olha só, o Drummond também acha às vezes que essa maluquice toda da vida deve ser alguém lá em cima tirando uma com nossa cara...

9.11.05

Inventário

Amor maternal,
amor de amigo,
amor de brinquedo,
amor escondido,
amor em segredo,
amor já vivido,
amor de parente,
amor de verdade,
amor de colega
de qualquer idade
é amor disfarçado
em ser amizade.
Amor no começo,
no meio, no fim.
Amor renascido:
meu amor por mim.
Amor esquecido,
relembrado depois.
Amor engraçado
que é o amor de nós dois.
Amores paternos
(o real e o emprestado)
amor que não tenho:
o de namorado.
Amor companheiro,
amor de irmão,
com cumplicidade
e competição.
Amor ideal -
amor de Platão.
Amores que tive,
amor que terei,
amores possíveis
e o amor que inventei.
Inventário de amores
que já conheci;
uma vida de amores,
o amor que aprendi.

7.11.05

Sobre Viver e Sobreviver

Eu respondo levando a sério
quando a vida brinca comigo.
Se ela me faz de palhaça,
eu a faço de circo.

Eu respondo encarando
quando a vida trapaceia comigo.
Se ela muda as regras do jogo,
eu mudo de jogo e me vingo.

Eu respondo crescendo,
quando a vida me faz de inimigo.
Se estamos as duas em guerra,
transformo ela mesma em abrigo.

4.11.05

Percepção

Não penses que a tua dor
Passou despercebida;
Eu a notei.
Esperei que te fosses e depois
Num poema
A eternizei.

(Yara Sylvia)

3.11.05

Check Up


Acabei de dar um check-up na situação
O que me levou a reler "Alice

no País das Maravilhas"
Já chupei a "Laranja Mecânica" e lhe digo mais
Plantei a casca na minha cabeça
Acabei de tomar meu Diempax,
Meu Valium 10
E outras pílulas mais
Duas horas da manhã, recebo no peito
Um triptanol 25
E vou dormir quase em paz

E a chuva promete não deixar vestígios...
E a chuva promete não deixar vestígios...
E a chuva promete não deixar vestígios...
E a chuva promete não deixar vestígios...

(Essa vai pra quem pediu "toca Raul", hehehehehe... e também pra quem já passou uma noite sombria, sabendo que um Valium, um Diempax, e outras pílulas ainda não seriam suficientes para se dormir em paz...)

1.11.05

Pero que las hay... las hay!

Em homenagem à noite das bruxas mais metafísica de toda a minha vida, uma frase do Quintana e uma do Jung:

"Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, acorda."
C. G. Jung

"Sonhar é acordar-se para dentro."
M. Quintana