26.12.04

Um desabafo daqueles CLÁSSICOS

Primeiro eu fiquei chocada, depois eu fiquei triste, depois eu fiquei com raiva, e agora nem sei mais como me sinto. Mas eu quero deixar uma coisa bem clara aqui, publicada para a posteridade, façam o favor de voltar nesse blog o dia que for necessário: se um dia eu ficar doente, seriamente, seja lá de que doença for, eu quero saber exatamente e em detalhes o que eu tenho. Não importa o quão fatal e inexorável; não importa quantos anos eu tenha nem quão alta ande a minha pressão sanguínea. Por favor, eu imploro, eu não quero ser tratada como criança numa situação dessas. Eu já fui tratada como criança dos zero aos vinte anos, mais ou menos, e sei bem o quão frustrante isso é, e já paguei a minha cota de ver a minha vida sendo decidida por outras pessoas nessa encarnação.

As pessoas tomam essa decisão de não contar a um parente doente o que ele tem exatamente, para poupá-lo(a) de alguma coisa qualquer que eu não consigo entender. Se um dia um câncer estiver me comendo as carnes e encurtando os meus dias, por favor me permitam me preparar. Que eu quero me despedir dessa vida com calma, que eu quero me entender com os meus pecados, que eu quero ter o direito de viver o fim da minha vida com propriedade e com dignidade.

As pessoas omitem do doente os fatos cruciais, mas depois não têm coragem de assumir a responsabilidade toda pelo governo da doença. Não tiveram coragem de contar para ela que o câncer está todo espalhado. Que já não há mais esperança. Então ela quis fazer a quimio, e agora está lá enfrentando tudo o que a quimio traz, e a parentada toda que sabe muito bem que aquilo não vai adiantar em NADA fica lá fazendo cara de paisagem e diz que a decisão foi dela. É incrível.

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