13.1.06

Raciocina comigo...

Eu nasci em 1977, ano em que o divórcio foi institucionalizado no Brasil. Pois é: eu e o fracasso oficializado do casamento temos algo em comum. Cresci na década de 80 junto com os primeiros filhos de pais separados, acreditando, conforme a crença existente naquela época em uma pequena cidade do interior, que aquelas crianças filhas de pais divorciados nunca seriam capazes de se envolver em um relacionamento estável por falta de um modelo apropriado em suas infâncias. Pobrezinhos, filhos do divórcio... “Minha filha, cuidado quando for arrumar namorado! Veja se o menino não vem de um lar desfeito!” A gente acreditava que esses nunca iam saber ser “bons maridos”...

Mas eis que as décadas foram passando, e depois daquela safra de casamentos ‘de feto’ mas não ‘de fato’ que a gente presencia no início da adolescência, a uma certa altura do campeonato, as pessoas começam a casar de “caso pensado”. Para a minha surpresa, fui percebendo que, via de regra, os filhos de pais divorciados se atiram em direção ao casamento muito mais rápido e com muito mais entusiasmo do que nós, filhos de casamentos duradouros. Eles vão com determinação e ímpeto, dispostos a construir uma relação sobre bases novas e sem repetir os erros que determinaram o fracasso dos casamentos de seus pais. Me parece que os divórcios em suas histórias lhes deram um senso de “controle” dos problemas relacionados ao casamento, e uma idéia de que, se tudo for mal, ainda há o que se fazer afinal.

Em contrapartida, os filhos de relacionamentos duradouros me parecem responder a uma visão de que o casamento é uma prisão de onde não se escapa, uma cela dentro da qual as suas individualidades sofrerão inexoravelmente as maiores e mais cruéis formas de tortura – uma armadilha a se evitar a todo custo. Há momentos em que eu também me sinto assim, ao observar certas características de antigos casamentos, e mesmo do casamento dos meus pais. Descubro, perplexa, aos 28 anos, que na verdade sou eu a pobre criança sem um modelo decente a seguir.

Não obstante, de poucos anos para cá, um outro modelo de casamento me apareceu: aquele dos meus amigos recém-casados, filhos de divorciados. Já me peguei mais de uma vez perguntando a alguma amiga com poucos anos de casada: “Mas e aí? Vale mesmo a pena esse negócio?” Ao que recebo toda vez mais ou menos a mesma resposta: “É legal, mas se for pra ser feito direito, dá trabalho”.

De qualquer modo, das respostas delas extraio uma lista mais ou menos clara das características que devo procurar num rapaz se um dia qualquer desses eu decidir que vou mesmo entrar nessa de casar. E então, outra surpresa: as características que fazem um bom marido são diferentes daquelas que fazem um bom namorado, de maneira que me senti traída mais uma vez. Sempre acreditei que namorar era uma espécie de “test-drive” de casar, e com isso hoje eu vejo que pelo menos um dos namoros que terminei até tinha grandes chances de dar num bom casamento.

As características que fazem um bom marido (e uma boa esposa, da mesma forma), segundo este novo modelo, estão na verdade bem mais próximas daquelas que fazem um bom amigo. Neste ponto, me pergunto: “qual a vantagem de se ter 1 marido, quando se pode ter uns 4 ou 5 bons amigos (isso sem falar nas amigas)?" Mas uns meses depois me ocorreu que uma resposta possível é a de que, mais cedo ou mais tarde, os seus amigos também se casam, e daí eles começam a se envolver em uns assuntos dos quais fica difícil participar a menos que você convença a todos eles de que você seria a madrinha ideal pros filhos deles. Algo me diz, no entanto, que não é a mesma coisa...

Então tá. Ao fim e ao cabo, cheguei num ponto do raciocínio em que a lógica toda de se casar está em se poder ter filhos, formar uma família. Derivo pra 3 perguntas:

1) Será possível que eu vou ter que voltar a ser católica e dar o braço a torcer para aquele padre ortodoxo que falou uma vez que o propósito único do casamento é a procriação??

2) E se o propósito 1º. do casamento é de se formar uma família e ter filhos, será que o propósito 2º. é o de se passar por um divórcio doloroso com o testemunho das crianças, para que elas também possam se desenvolver em adultos casadoiros?

3) E se eu não quiser ter filhos?

É um beco sem saída. Eu devo ter perdido alguma passagem ali pra trás, esqueci de inverter algum sinal quando passei um termo de um lado a outro da equação, porque de alguma maneira eu terminei com uma conclusão que diz:

3 = 0

10 comments:

Anonymous said...

Nosssa.......
Acho que vou precisar de um fds de questionamento para poder discutir com vc... hehehhe
Mto bom.....
Depois te conto o que achei.
Bjaooo

Anonymous said...

Oi miga! Tou passando por aqui pra saber como vc tá... Saudades de vc!
Vc não recebeu o meu e-mail, perguntando das novis? Bom, de qqr forma, vê se aparece ;)
Beijão!

Anonymous said...

Oi Tati!
Como amigos recém-casados e afilhados seus, vamos responder juntos. :-)
Achamos que a sua argumentação pode ser dividida e analisada em três partes:
1) Casamento e divórcio
2) Com quem se casar?
3) Pra que serve o casamento?

1) Você diz que, pela sua experiência, filhos de pais separados se dedicam mais a ter um casamento de sucesso, e que filhos de casamentos bem sucedidos vêem o casamento como uma prisão. Muitas pessoas têm o bom hábito de enxergar os erros dos outros, e tentar evitá-los. Assim, os filhos de pais separados costumam ter exemplos de o que não se fazer em relação a um casamento. Nem sempre apenas vendo os pais, mas no nosso caso vendo o divórcio da Daniela (irmã do Paulo). Nós aprendemos muito com isso, e achamos que estamos conseguindo evitar muitos dos erros que ela cometeu.
Eu, Paulo, já acho que existe um conceito mais amplo por trás disso, de que os filhos sempre tentam ser melhores do que os pais foram, em todos os âmbitos. Quando os pais foram fracassados em alguma coisa, vê-se então uma clara oportunidade de vencê-los, o que nos dá ânimo extra para fazer a coisa certa.

2) Nos surpreendeu o seu comentário de que as características que fazem um bom marido para você são diferentes das de um bom namorado. Claro que quando não se está à procura de um relacionamento sério, talvez sejam mais importantes coisas como se a pessoa gosta de baladas ou quão engraçadas são suas piadas ou quão bom é o sexo. Mas em nossa opinião um bom namorado(a) sempre foi aquela pessoa com quem se poderia ter um relacionamento amoroso e de amizade ao mesmo tempo, e que nos trouxesse algo especial, ou seja, as mesmas coisas que procuramos um no outro para casar. Será que você não esteve procurando pelas pessoas erradas para namorar??? Se você estiver realmente a fim de se casar, comece a enxergar bons candidatos a marido nas pessoas com quem você se envolve. Volte o seu radarzinho pra isso e você perceberá que 90% dos caras que você sempre achou o máximo não valem a pena.

3) Tati, quatro ou cinco amigos não substituem um marido, claro que não. O grau de intimidade e cumplicidade que se atinge num casamento não é nunca atingido pela pura amizade, por melhores que sejam os amigos, pelo simples fato de que não se faz tudo junto. Contar tudo para uma pessoa não é a mesma coisa que fazer essas coisas juntos...
E não existe nada melhor do que dividir a vida com alguém...
Constituir uma família obviamente é outra coisa que só se atinge com o casamento, mas isso não implica obrigatoriamente em ter filhos. Uma família de dois pode muito bem ser uma família completa e feliz.

Beijos, e bença,

Jor e Paulo

Anonymous said...

Então,
Como você eu também nasci em 1977, mas tive uma experiência um pouco diferente da que vc relata, eu sou um filho de um casamento que não deu certo, que não vingou, ou seja, de pais separados.

Extendendo um pouco sua reflexão, eu penso que os traumas gerados nos então filhos de pais separados nunca acabam. Me recordo quando criança, dentre poucas lembranças que tenho daquela época, algumas vezes em que fui submetido a cenas desconfortantes para qualquer ser humano, quanto mais uma criança.

Hoje, como você estou a beira dos meus 30 anos, mas ainda não casei. Caso neste ano. :) mas, apesar de ter vindo de uma estrutura familiar que me deixou traumas, penso que uma hora ou outra você encontra alguém que pode constituir então algo que, no meu caso, nunca tive na realidade. Uma família copmleta.

Bom, só passei para dizer um oi.

Té um dia.

Anonymous said...

Eu como filha de pais separados confesso que tenho uma preocupação em não repetir os mesmos erros. Começou na escolha do marido. Sempre disse ao Luciano que a fidelidade para mim era uma coisa muito importante (daqui já dá para saber que isso faltou na relação dos meus pais). Claro que explicando devidamente o que para mim é fidelidade (não vou entrar no mérito da questão aqui, mas envolve coisas como companheirismo e compartilhamento, ser “fiel ao que foi combinado entre nós” e respeitar os valores do outro).

Talvez essa coisa de ter visto um relacionamento entre duas pessoas que na verdade não queriam mais estar juntas, mas que de alguma maneira ainda continuam casados pode fornecer uma idéia de que casamentos são mesmo prisões. Mas como estamos aqui para evoluir, assim como eu vi o “lar desfeito” e quero fazer diferente, creio que os filhos dos “lares não desfeitos” podem tentar fazer uma história diferente – casamento pelo prazer de estar junto, de compartilhar problemas e conquistas, conviver, criar.

Acho que você tem “certa razão” ao dizer que as características de um bom namorado não são as mesmas de um bom marido. Isso porque ter um namorado que esteja sempre cheiroso e gostoso, disposto a ir com você em todos os programas que você julga interessantes, sem problemas no sexo e que seja bom de papo (reduzi um pouco aqui os namorados, mas em suma é quase isso) está longe de ser um bom marido. Para evitar problemas no lar é preciso saber administrar as finanças, fazer as bagunças que no seu critério dê para agüentar, ter hábitos alimentares e de higiene que sejam condizentes aos seus (e que você só percebe depois de estar junto), etc. Ou seja, é bom ter um marido amigo, mas só isso não basta. Você pode ser amiga de um cara por anos. Ele pode ser o seu melhor amigo e se você casar com ele, pode ser que o casamento não dure nada! Então, minha amiga, more junto antes de casar! Creio que esse é o melhor conselho que eu posso te dar.

Se casamento compensa? Na minha opinião, sim e muito. Estou casada a 8 meses e muito feliz. Ele é meu amigo, companheiro para planos de vida e finanças. No meu caso, nossos planos incluem filhos. Mas poderiam não incluir. Acho que isso tem que ser acertado entre o casal.

Olha, só para esclarecer:
Aqui, assumo namoro como aquele relacionamento cada um na sua casa, cuidando do seu dinheiro, com seus próprios planos.
Morar junto com o namorado, dividindo finanças e fazendo planos para mais de 5 anos aí já é quase o mesmo que casamento. A única diferença são os papéis. Casar no civil tem as suas vantagens práticas como, por exemplo, você não precisa esperar 2 anos para fazer parte do plano de saúde dele. Casar no religioso é mais para dar satisfação à família e a sociedade, e pode ser uma vontade sua, vestir o “tradicional” vestido de noiva. Do resto, não muda muito.
Quanto à idade (28 anos), não se preocupe com isso. Quando tiver que acontecer, vai acontecer. Não interessa se com 30, 35 ou 40. Isso é com você e com ele. Também depende do momento de vocês. Agora, você está focada em conseguir a sua formação profissional. Então, bola para frente!

Anonymous said...

Wow, vamos lá… belo post!

Seus 3=0 me soam muito pessimistas. A todo momento, vc se diz traída, enganada, ludibriada, engabelada por esta bela equação matemática de casamento/relacionamento/namoro que tem que ser 3=3, 1+1=2+n(filhos)

A conclusão de que filhos de divórcio casam antes ou de forma mais impetuosa que os filhos de casamento duradouros, tem alguns pontos a serem discutidos, onde eu sintetizaria:

1) os filhos de divórcio se sentem mais livres para o casamento pois acham que este não é uma prisão, e que se você acertar, você ganha e passa a vida com a outra pessoa, e se você errar, você começa de novo, como os próprios pais já fizeram.
2) Já os filhos de casamento duradouro acham que você tem que fazer a escolha perfeita e não pode errar nunca, pois o casamento é uma prisão: pensam isso por verem os seus pais brigarem o tempo todo e nunca se separarem, como se um fio invisível os unisse. Na maioria dos casos, é isso mesmo, pois tem muito casamento que cheira a conveniência, acomodação, tédio. Nada em comum a se debater ou a se fazer (no caso, os meus pais – aos quais eu já perguntei mais de uma vez porque eles ainda continuavam juntos...)

Particularmente, eu não consigo achar melhor resposta para esta equação da que a Stephen Kanitz já deu (artigo da VEJA) o qual vocês podem ler no link do meu comment.

Acho que um bom relacionamento, que venha a ser duradouro, depende de uma série de valores a serem constantemente renovados.
1- Respeito
2- Cumplicidade
3- Admiração
4- Afetividade
5- Sensualidade
6- Confiança
7- Humor
8- Paciência

Acho difícil manter qualquer relacionamento sem um desses fatores. Pode até começar com alguns deles faltando, mas não vai muito pra frente. Sem eles então, duram só por inércia mesmo. Não sem aborrecimentos por ambas as partes.

Acho esquisito você achar que um bom marido não é um bom namorado ou vice-versa. Eu continuo achando que namoradas são um test-drive para o casamento. Aliás, você conhece algum caso de casamento que veio antes do namoro? Tipo, o cara beijou a mina na balada e já foram casar no dia seguinte? Meio raro, não? Ou seja, namoro ainda é a melhor maneira de se achar um namorado. E existe até para você testar todos os valores acima citados, que não são facilmente reconhecidos numa noite, numa semana, ou em alguns meses. E muitos deles você só descobre indo morar junto mesmo.

Com ou sem divórcio, a gama de relacionamentos cresce se vc começar a analisar o sucesso dos casamentos com outras informações do tipo: qual a % de casamentos duradouros e felizes? qual a porcentagem de casamentos que resultaram em traumas nos filhos? E de separações? E quais as porcentagens de casamentos que efetivamente duraram de filhos de feto ou de fato?
Ah, que bobagem... eu estou aqui escrevendo e continuo achando que o Kanitz já matou a charada mesmo. Bem, corram lá no link e leiam. Aliás, leiam sempre ele, é muito bom...

Anonymous said...

O link não entrou da primeira vez.. vai de novo aqui!
http://www.kanitz.com.br/veja/segredo.asp

caju said...

Muito bom teu questionamento! Eu nasci em 1974, quando o divórcio ainda não existia, mas meus pais nunca se casaram mesmo. Eles estavam juntos desdes os 16 anos, se amaram por toda uma vida, mas o casamento não daria certo. Estiveram às portas da igreja por 3 vezes, mas minha mãe desistia. Isso nada tem a ver com minha orientação amorosa, que fique claro.
De qualquer maneira, o casamento é uma instituição social, tal qual uma sociedade privada. Legitimação estatal da relações carnais e implicitamente estabelece suas consequências patrimoniais. Mas tudo bem, é bonitinho, pode ser sonho de muita gente, mas não garante felicidade. Ah, mas é a minha opinião.
Paro por aqui.
Beijo grande! 2006 doce!

Anonymous said...

Tati, acho que coisas tipo "relações" devem interpretadas e questionadas considerando-se que "cada caso é único". Só assim é possível aprofundar, e ver coisas pr'além das aparências... Um ser humano sozinho já é uma imensidão de questões, alegrias, brilho, desafios, sombras... E pra mim a equação de um casal é 1+1=3! Então, não consigo fazer uma leitura única e padronizadora... Mas acredito, e acho este um dos melhores desafios desta vida!

Anonymous said...

Oi querida!
Respondendo ao teu comment sobre o próilogo do meu livro... Bem, com o decorrer do livro vc vai ver q não sou eu o(a) narrador(a)... rsss
Por isso, não me agradeça... =P É um livrinho de ficção hahaha
Bobagens de lado...
Estou com saudades!
Vai passar o Carnaval em SanCa?
Bjão!