27.7.05

Brasão dos Maziero


"O brasão possui no seu escudo um ramo de café, que representa a principal atividade de radicação da família no Brasil; nesse ramo, os quatro grãos de café simbolizam as quatro famílias originadas pelos filhos de Luigi e Pierina. A cor de fundo do escudo é marrom avermelhado e simboliza a terra onde prosperaram as sementes de café e de onde se obteve, por muitos anos, o sustento da família.
A inscrição LP se refere às iniciais de Luigi e Pierina, o casal que deu origem ao clã. O nome da família está escrito abaixo do escudo, em cor branca, simbolizando a paz. Os laços existentes atrás do escudo representam o vínculo entre os familiares, e as cores verde, vermelho e branco remetem às três cores da bandeira italiana, país de origem da família."

Trecho de "Os Maziero", livro de Wilson G. Maziero que conta a história da família.

Luigi e Pierina são meus bisavós por parte de mãe. Sou portanto descendente dessa família de lavradores que vieram da Itália no final do século XIX em busca de uma vida melhor. Maziero (cuja grafia original é masiero) significa arrendatário, ou lavrador que trabalha em terras de terceiros. O nome vem de "maso", do latim "pequena gleba de terra". Descendo de gente simples. Talvez esteja aí uma raiz da simplicidade que eu busco expressar em meus poemas e nas outras coisas que produzo.
O brasão acima também foi desenhado por mim. Os Maziero realizaram um concurso interno à família para projetar um brasão para a família e dentre 14 propostas, a minha foi a escolhida. Acho que ele se parece com o que eu escrevo também porque os elementos tendem a ter mais do que um único significado, gosto de idéias que se superpõe, de simbologias... então, aí está, uma poesia minha sobre minha família em forma de brasão. :)

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19.7.05

Solidão em Sol Menor

“quem me dera ter o som”
Mote de Marcelo Gilge


Quem me dera ter o tom
Pra compor uma canção
Afinada em sol menor
Pra espantar a solidão
Um blues pra se cantar de cor

Quem me dera ter o dom
De escrever uma canção
Que alivie toda a dor
A tristeza, a frustração
Do poeta e do cantor

Quem me dera ter o som
Pra tocar uma canção
Que trouxesse a luz do sol
A esse mundo escuro e vão
Por onde andamos sempre sós...

17.7.05

"Há somente uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela."

(Alberto Caieiro falando por mim. Sempre sempre)

16.7.05

You Can't Always Get What You Want...

"You can't always get what you want,
you can't always get what you want,
you can't always get what you want..."

Puta que o pariu... na próxima encarnação, eu quero nascer baixista duma banda de blues!

13.7.05

Sentidos

Sentido
há muito não faço mais.
Extinta a lógica,
eu sigo o instinto.
Me desfiz de tudo o que eu havia pensado:
me despi do meu orgulho,
das aparências,
do bom-senso.
Eu me desnudei em camadas
até que restou somente
entre eu e você
a imensidão das coisas que eu tinha a dizer
sobre tudo o que aconteceu.
Até que restou somente
entre nós
o que eu havia
sentido.


(Ao que Mário Quintana responderia: "Que fique muito mal explicado: / Não faço força pra ser entendido. / Quem faz sentido é soldado.")

12.7.05

Férias na Fazenda...





















madrugada na fazenda
alvorecer da modernidade
meses antes concebida
com muita tecnologia
uma pesquisa engenhosa
uma vaca e sua cria
ao cabo de x luas
uma feliz coincidência
a bezerrinha eram duas
com a clonada aparência
e a minh'alma, menina do interior
tomada de espanto e torpor
Ao perceber o acaso
Quase entrou em espasmo
Era esperada uma
Apenas havia um arreio
E eu, com algum receio
Segurei a segunda nos braços...

(poesia escrita a 6 mãos - eu, Gabi e Lucas - sobre a surpresa do nascimento de bezerrinhas gêmeas num experimento conduzido pelo laboratório do meu irmão. Essas belezinhas aí são fruto de um embrião com mitocôndrias de bovino e de búfalo!)

9.7.05

“Um monstro de delicadeza”

(Esta é a poesia do Vinícius de que falei no post anterior. Ela não tem nome. Na verdade, é a parte do meio de uma seqüência de três poemas. Para mim, ela fala de uma coisa que todos temos em comum, mas poucos ousam admitir. Fala de tudo aquilo que a gente traz dentro e que é horrendo. O que o Jung chama de a nossa “Sombra”. Lá vai:)

Falarei baixo
Para não perturbar a tua amiga adormecida
Serei delicado. Sou muito delicado. Morro de delicadeza.
Tudo me merece um olhar. Trago
Nos dedos um constante afago para afagar; na boca
Um constante beijo para beijar; meus olhos
Acarinham sem ver; minha barba é delicada na pele das mulheres.
Mato com delicadeza. Faço chorar delicadamente
E me deleito. Inventei o carinho dos pés; minha palma
Áspera de menino de ilha pousa com delicadeza sobre um corpo de adúltera.
Na verdade, sou um homem de muitas mulheres, e com todas delicado e atento
Se me entediam, abandono-as delicadamente, desprendendo-me delas com uma doçura de água
Se as quero, sou delicadíssimo; tudo em mim
Desprende esse fluído que as envolve de maneira irremissível
Sou um meigo energúmeno. Até hoje só bati numa mulher
Mas com singular delicadeza. Não sou bom
Nem mau: sou delicado. Preciso ser delicado
Porque dentro de mim mora um ser feroz e fratricida
Como um lobo. Se não fosse delicado
Já não seria mais. Ninguém me injuria
Porque sou delicado; também não conheço o dom da injúria.
Meu comércio com os homens é leal e delicado; prezo ao absurdo
A liberdade alheia; não existe
Ser mais delicado do que eu; sou um místico da delicadeza
Sou um mártir da delicadeza; sou
Um monstro de delicadeza.

7.7.05

Soneto de Quarta-Feira de Cinzas

(Vinícius de Moraes)

Por seres quem me foste, grave e pura
Em tão doce surpresa conquistada
Por seres uma branca criatura
De uma brancura de manhã raiada

Por seres de uma rara formosura
Malgrado a vida dura e atormentada
Por seres mais que a simples aventura
E menos que a constante namorada

Porque te vi nascer de mim sozinha
Como a noturna flor desabrochada
A uma fala de amor, talvez perjura

Por não te possuir, tendo-te minha
Por só quereres tudo, e eu dar-te nada
Hei de lembrar-te sempre com ternura.



Comprei ontem uma antologia poética do Vinícius de Moraes, em comemoração ao meu primeiro dia de férias. Que doce surpresa encontrei enquanto “namorava” o livro! Trazia algumas poesias do livro “A Arca de Noé”. Num instante fui transportada de novo para a minha infância. De repente me lembrei de que quando era pequena eu tinha um (ia falar CD, mas naquela época...) tinha um LP da Arca de Noé que eu escutei praticamente até furar (e quem me conhece nem duvida de que eu sou capaz! hehe) Descobri de repente que ainda me lembro perfeitamente das melodias, e das letras, que delícia! “Lá vai São Francisco / pelo caminho / de pés descalços / tão pobrezinho (...) dizendo ao vento / bom dia amigo / dizendo ao fogo / saúde irmão”. E me dei conta de que o Vinícius me acompanha (ou seria eu quem o acompanha?) desde pequenina... e ai, quanto Vinícius eu li na adolescência, quantos sonetos... e hoje em dia ainda a poesia dele fala comigo, vai no fundo do peito e da alma... tem uma, linda, linda, que fala da sombra, dessas coisas que a gente tem dentro e até se assusta (próximo post, prometo)... e tem essa que eu postei hoje que me faz pensar em gente querida...

5.7.05

To Hope To Wait

Eu espero
que a tua solidão seja grande como a minha.
Assim você saberá o que me falta agora
e o que sempre me faltará.

Eu espero
que a tua solidão seja musical como a minha.
Assim você saberá ouvir
o meu canto e o meu silêncio.

Eu espero
Que a tua solidão seja poética como a minha.
Assim você poderá entender
a tristeza e a beleza nos acontecimentos da nossa vida.

Eu espero
que a tua solidão seja noturna como a minha.
Assim você conhecerá meus abismos
e a minha escuridão.

Eu espero
que a tua solidão seja violenta como a minha.
Assim entenderás a raiva
e as feridas.

Eu espero ainda
que a tua solidão seja paciente como a minha,
para que saibas esperar por mim,
assim como

Eu espero
por ti.

3.7.05

A Física descobre Deus?

"Atualmente, vem crescendo o consenso, muito lentamente, de que a Física Quântica não está completa, a menos que concordemos que nenhum fenômeno é um fenômeno a menos que seja registrado por um observador, na consciência de um observador. E isso se tornou a base da nova ciência. É a ciência que, aos poucos, mas com certeza, vem integrando os conceitos científicos e espirituais.
Não há dúvida que a Matemática Quântica é muito capaz, muito competente, e ela prevê o desenvolvimento de ondas de possibilidades, a matéria é retratada como ondas de possibilidades. O modo como elas se espalham é totalmente previsto pela Física Quântica. Mas agora temos probabilidades de possibilidades. Nenhum evento real é previsto pela Física Quântica. Para conectar a Física Quântica a observações reais: não vemos possibilidades e probabilidades, na verdade vemos realidades. Esse é o problema das medições quânticas. E luta-se com esse problema há décadas, como eu já disse, mas nenhuma solução materialista, uma solução mantida dentro da primazia da matéria foi bem sucedida. Por outro lado, se considerarmos que é a consciência que escolhe entre as possibilidades, teremos uma resposta, mas a resposta não é matemática. Teremos de sair da matemática. Não existe Matemática Quântica para este evento de mudança de possibilidades em eventos reais, que os físicos chamam de ‘colapso da onda de possibilidade em realidade’. É essa descontinuidade do colapso que nos obriga a buscar uma resposta fora da Física. O que é interessante é que se postularmos que a consciência, o observador, causa o colapso da onda de possibilidades, escolhendo a realidade que está ocorrendo, podemos fazer a pergunta: qual é a natureza da consciência? E encontraremos uma resposta surpreendente. Essa consciência que escolhe e causa o colapso da onda de possibilidades não é a consciência individual do observador. Em vez disso, é uma consciência cósmica. O observador não causa o colapso em um estado de consciência normal, mas em um estado de consciência anormal, no qual ele é parte da consciência cósmica. Isso é muito interessante. O que é a consciência cósmica diante do conceito de Deus, do qual os místicos e teólogos falam?"
(Trecho da transcrição da entrevista concedida pelo físico Amit Goswami ao Roda Viva, TV Cultura. Amit Goswami é PHD em física quântica e professor titular de física da Universidade do Oregon, autor do livro O UNIVERSO AUTOCONSCIENTE.)