28.6.05

Aos leitores desse blog

Não se preocupem.
Aprendi com a Cecília Meireles, que aprendeu com a primavera, a me deixar cortar.
E a me deixar voltar sempre inteira...

27.6.05

Pequeno Poema sem Nome
Sobre um Fim que não tem Fim

(para alguém que se foi
e levou consigo esse imenso pedaço de mim)

O teu olhar é parte
da minha visão
não é justo que me deixes
na escuridão

O teu corpo é parte do meu
teu terror, tua risada,
não é justo que me deixes
sem braços, sem pernas, sem nada...

Os teus sentimentos
são a carne do meu coração
não é justo que me faças
fria razão

Tuas palavras são pedaços
de tudo aquilo a que pertenço
não é justo que me faças
silêncio...

23.6.05

Vida de Astronauta

Quando criança eu queria ser astronauta.
Cada época tem a sua magia;
eu achava que ser astronauta
era vivenciar a magia do nosso tempo.
Sim, a tecnologia tem lá a sua mágica, mas
o que eu queria era poder flutuar
e pensar que estava voando;
poder explorar outros planetas, novos mundos.
Me distanciar,
olhar a Terra de longe e,
quem sabe?
desta perspectiva diferente
compreender aquilo cujo entendimento nos é negado,
a nós que temos os pés no chão.

Quando cresci, mudei de planos.
Abandonei os projetos espaciais, acalentei outros sonhos...
Mas mantive os olhos atentos à magia
de ser leve, de aprender,
de adentrar o desconhecido
e de tirar os pés da terra.
Não sou astrounauta, mas arquiteta
de paisagens interiores.
Psicóloga exploradora de mundos,
e poeta!

Os Dois Relógios

"Um homem com um relógio pode dizer as horas; um homem com dois já não tem certeza"
(Gabriela Mezzacappa)
Neste espaço falo de idéias que me ocorrem e que me fazem refletir sobre viver, sobre ser humano, sobre amar, trabalhar, sobre inserir-se culturalmente, sobre sentir dificuldade em fazer cada uma dessas coisas, ou todas elas... Mas nem sempre essas idéias quando ocorrem o fazem dentro da minha cabeça. Elas ocorrem por aí, nas conversas, nas aulas, nos blogs dos amigos... E essa idéia que me ocorreu na aula da Cristina (é, de novo. Um caos aquela aula, aquela mulher, mas sempre põe a gente pra pensar) encontrou uma ressonância nesta frase do Bolo de Cenoura.
O que discutíamos na aula era o dever moral e ético do psicólogo de ajudar o paciente a recuperar a sua capacidade de trabalhar, e de amar, sem julgar as suas opções de vida. O dever que temos de conseguir atender alguém cujas convicções se choquem com as nossas; mesmo que ele/a seja bandido, drogado, prostituído, de outra religião, ou ateu, homossexual, prepotente, ou só chato, e de conseguir ajudar esta pessoa a ser feliz com as suas próprias convicções. Parece tão difícil a princípio. Parece que seremos obrigados a abrir mão de tudo o que é certo e nos curvar às maluquices e incongruências deste mundo.
Mas me ocorreu que fica bem mais fácil se a gente lembrar que esses conceitos do que é certo ou errado são convenções tão arbitrárias quanto o fato de que agora são 4:04, como poderia ser 5:13 ou 1:55, ou outro número qualquer. E que da mesma forma que nada garante que um relógio possa estar mais certo que o outro, nada comprova que uma maneira de viver seja mais certa que outra.
Manifesto-me aqui então em prol dessa idéia: andemos todos sempre com dois relógios. É para sempre lembrar do quanto certas verdades podem ser relativas...





Posted by Hello

19.6.05

Aprendendo a voar?

De pé na ponta da pedra
ela abre os braços em cruz.
Acima, a imensidão do céu infinito,
metáfora de todo o sucesso possível.
Abaixo, a escuridão profunda do abismo,
O pavor e o medo cabível.
Ela fecha os olhos,
respira,
e se atira.
TatiGirl versão 2.8

Agora com muito mais espaço interno!

16.6.05

Balanço de Aniversário

O que se ganha?
O que se perde
quando se envelhece?
Será que se aprende a ser mais amigo?
O que fica? O que muda?
Crescer é presente ou castigo?
Será que se amadurece?
Será mais importante o que se aprende,
ou o que se esquece?

Sem as pistas, vou tateando.
Há um mistério; investigo.
Talvez não encontre as respostas,
mas posso acabar encontrando comigo!

12.6.05

Sincronicidades: Qual calmaria?

"Jung criou o termo sincronicidade para designar “a coincidência no tempo de dois ou mais acontecimentos não relacionados causalmente, mas tendo significação idêntica ou similar, em contraste com sincronismo, que simplesmente indica a ocorrência simultânea de dois acontecimentos”. A sincronicidade, portanto, caracteriza-se pela ocorrência de coincidências significativas. (Nise da Silveira – Jung: Vida e Obra)"


Estou voltando de um período de “calmaria compulsória”, no qual fui jogada à força por uma gripe que me deixou absolutamente prostrada por quase 24 horas ininterruptas. Sem levantar da cama nem pra comer... Logo eu, que estava aprendendo a contemplar a calmaria, descobri que só observar não adianta. Se alguém aqui dentro resolve que você vai aprender a viver a calmaria com tranqüilidade, ao invés de com aquela mistura de tédio e ansiedade, bem... você vai aprender a viver, meu amigo, não é só ficar olhando não... Mas de qualquer forma, olha só o que eu achei na minha volta:

Calmaria de Tatiana: o post que vocês podem ler logo aqui abaixo.

Calmaria de Gabriela: outro post sobre a calmaria de uma poetisa que eu adoro

(com uma coincidência paralela: a menina sobre a lua, Karina)

Calmaria de Simone: uma leitora nova que deixou um comentário num post aqui embaixo, e que, para a minha surpresa, tem um blog chamado “Qualquer Calmaria”

10.6.05

Calmaria


Calmaria...
Tarde quente, sem vento
Nenhuma folha se move.
Ar parado.
Rotina, longamente conhecida.
Coração vazio.
Velha cidade,
O mesmo céu,
As mesmas casas...

No fim do dia, não tenho pressa
Contemplando o céu límpido e sem nuvens.
Quantos azuis diferentes podem haver
Num céu de uma só cor?

Adoro esta paz.
Adoro estes raros,
Preciosos momentos
De vida em suspensão,
Em que tudo é silencioso:
A natureza está quieta,
A cidade está quieta,
O coração está quieto,
E até a poesia,
Esta criança,
Se aquieta...

Mas silenciosamente
(impertinente!)
aquela primeira estrelinha
atinge a minha seda azul!
E me traz de volta aos ouvidos
A voz do velho sábio:
“A calmaria é senão o prenúncio do tumulto!”

Em pouco tempo, mil estrelas surgem!
Cai a noite, surge a brisa,
Acendem se os postes e os faróis!
De noite, a cidade acorda,
A roda viva da vida se põe de novo a rodar,
E tudo muda muda muda muda muda!

Mas é só daqui a pouco...
Shh... Espera um minuto...
(...)
Ouve comigo este silêncio...
Posted by Hello

5.6.05

A Sombra e o Homem

(Há sempre um pouco de luz no meio da escuridão; há sempre um pouco de escuridão no meio da luz. Essa é a minha versão daquele símbolo do Yin/Yang:)



Não se separam luz e sombra;
São a mesma coisa pelo avesso.
A luz do dia mais claro
Desenha as sombras mais nítidas:
quanto mais luz mais sombra...
Na noite mais escura
Brilham mais as estrelas:
quanto mais sombra mais luz!

(E esta daqui é a versão do Fernando Pessoa / Alberto Caieiro:)

"Por isso essas canções que me renegam
não são capazes de me renegar
e são a paisagem da minha alma de noite
a mesma ao contrário..."

Posted by Hello

4.6.05

Negra Noite

Eu parti em busca de mim.
Estava no princípio de uma estrada
estreita, escura, esburacada,
numa negra noite sem lua.
O caminho sinuoso mergulhava
numa escuridão densa e silenciosa.
Relutei.
O negrume da noite preenchia todos os vazios,
me isolava de todas as coisas.
Só havia eu,
a escuridão
e a estrada.
Tudo o que eu podia ver
era a distância até o próximo passo,
e mais nada.
Foi tremendo de medo
que decidi seguir
e deixei
que aquela noite profunda me engolisse.
Neste preciso momento,
olhei para o alto
e vi:
na mais negra das noites,
milhões de estrelas cintilavam!