Ele gritou comigo:
- Porque foi que você disse a ele que estava apaixonada?! Porque foi que você fez isso?!
Primeiro, foi aquele susto. Eu nem sabia que ele já sabia. Meu cérebro encharcado em álcool tentando entender a súbita e áspera informação nova. E ele continuava:
-Me diz porque foi que você fez isso!!
Não tinha outra explicação:
-Bom, eu falei porque era verdade...
Eu tentei explicar que eu não queria que nada disso tivesse acontecido, que eu tentei lutar contra aquele sentimento, que eu não queria ter envolvido ninguém naquela história, e muito menos que ele tivesse ficado sabendo daquilo por qualquer outra pessoa que não fosse eu... Mas eu não conseguia me explicar, nem ele me entender:
-Eu não entendo você, eu não entendo o que você faz, eu estou cansado de ficar tentando adivinhar o seu blog!!
Outro susto. Já tinha falado pra tanta gente que o que eu mais gostava naquele relacionamento era que eu sempre tinha tido a liberdade de expressar tudo o que eu sentia... Nunca antes tinha falado tanto sobre os meus sentimentos a respeito de uma pessoa para a própria pessoa. Realmente, metade do que está no meu blog é sobre ele, mas toda vez que eu postava sobre ele, mandava um email avisando: "postei sobre você, vai lá ver".
Até que eu disse:
-Me apaixonei porque ele esteve comigo esse tempo todo, do meu lado... você me abandonou, me deixou, não entendo até hoje porque foi que você de repente parou de falar comigo daquele jeito...
E ele me disse que teve medo. Que viu todo mundo que estava lá traindo todo mundo que ficou aqui. E que não acreditou que eu ia conseguir. Que acabou se convencendo disso, e desistiu. E que quando ficou sabendo que eu estava apaixonada por outra pessoa, pensou: "Eu sabia que isso ia acontecer!"
Foi daí que EU entendi... O problema não era ele não me entender. O problema era ele não me acreditar. Não acreditou quando eu disse que iria esperar por ele. Não acreditou que o que eu falei sobre os meus sentimentos era exatamente o que eu sentia por ele (pelo menos, até a medida em que me é dado saber isso. Nem sempre a gente sabe o que sente). Não acreditou que quando eu disse que estava apaixonada é porque eu estava, que não já jogo, não há manipulação... Somente há sentimentos fora do meu controle e, muitas vezes, fora do meu entendimento...
Ele vai ler isso aqui. Primeiro, vai falar que não gritou. Segundo, vai ficar se perguntando: "Meu, essa menina não sabe quando chega a hora de abandonar um assunto?" Daí talvez fique tentando imaginar aonde é que eu quero chegar com tudo isso... Eu acho engraçado: eu SÓ me fodo, mas neguinho ainda acha que eu sei o que estou fazendo. Eu não tenho escolha: só posso ir vivendo a vida do jeito que ela vai aparecendo para mim. Ele não vai responder, no que eu acho que talvez ele faça bem. Ou não.
E eu? Eu vou tocar a vida em frente. Vou prosseguir levando um pouco de tristeza, porque eu também meti os pés pelas mãos muitas vezes nessa história; um pouco de alívio, porque pude finalmente entender muito do que aconteceu; um pouco de pesar, porque fiz outras pessoas sofrer; um pouco de paz, por saber dentro do meu coração que apesar de tudo de ruim que aconteceu eu ainda consigo ver coisas boas em todo mundo que fez parte dessa história. E mesmo que ninguém acredite em mim, vou prosseguir levando o meu amor confuso, palerma e abestalhado pra quem quiser e puder receber...
"Um dia triste,
Toda fragilidade incide
E o pensamento lá em você
E tudo me divide..."
(Djavan)